Superação e generosidade marcam carreira de Eduardo Cavalli no Automobilismo

Ao longo dos anos, a velocidade tem sido capaz de contagiar e encorajar diferentes gerações. Todos os dias surgem novos desafios pelo caminho de quem quer fazer do automobilismo a sua meta de vida. No entanto, a superação de cada um desses obstáculos torna o processo ainda mais eletrizante e enriquecedor. O automobilismo tem a capacidade de fazer com que os apaixonados por velocidade consigam superar os seus limites e maiores medos. Inspirado pelo pai, Eduardo Cavalli demonstrou interesse pela velocidade desde os primeiros anos de vida. “Meu gosto pelo esporte a motor começou muito cedo, aos dois anos eu não conseguia dormir à noite se não fosse andar de carro com o meu pai. Eu jogava videogame, assistia fita de corrida, olhava revistas, consumia muito conteúdo que alimentava cada vez mais a minha paixão”, conta.
Ao contrário de muitos outros pilotos do automobilismo, Cavalli começou no esporte através do motocross. “Por influência do meu pai, que foi um grande piloto de motocross, iniciei nas duas rodas na terra. Conforme os anos foram passando, minha paixão pelo automobilismo começou a sufocar o motocross. Eu já não tinha mais tanto interesse nas duas rodas. Antes disso, quando tinha uns 11 anos, meu pai havia me perguntado se eu não queria largar o motocross para ir para o Kart, eu disse que não, mas o meu não foi devido à insegurança, tinha medo de mudar para algo totalmente desconhecido. Hoje, me arrependo por não ter começado antes”, explica.
Enquanto os anos iam passando, o amor pelo automobilismo começou a falar mais alto, fazendo com que Cavalli enfrentasse o medo do novo. Aos 14 anos, o jovem piloto comprou um simulador, uma peça fundamental para a sua preparação para ingressar no automobilismo. “Fiquei uns sete anos só quebrando volante, andando que nem um louco, mas no final das contas acabou servindo porque é a base de tudo que tenho hoje no quesito de pilotagem”, conta. Durante o início da carreira como piloto no automobilismo, Cavalli passou por algumas categorias diferentes e enfrentou o seu primeiro obstáculo. “Eu já corri de kart, de fórmula, e todas às vezes, tive um bom resultado e uma boa evolução, mas assim como 99% dos pilotos, sempre empatei pela questão financeira. Foi somente agora, nesta minha última tentativa na Turismo 1.4 que as coisas começaram a funcionar”, explica.
Engana-se quem pensa que a questão financeira foi o único obstáculo que surgiu na carreira de Cavalli. O jovem piloto precisou enfrentar algo mais assustador para conseguir manter firme o sonho de permanecer no automobilismo. “Foi algo que me assombrou. Tenho miopia e astigmatismo, mas isso é facilmente corrigível com a utilização de um óculos, no entanto, o problema aumentou, e comecei a ter visão dupla”, recorda. Como todos sabemos, a visão é um dos sentidos mais importantes, ainda mais para aqueles que se aventuram no esporte a motor. Imagine que você está no meio de uma competição automobilística e os seus olhos te mostram direções distintas do mesmo caminho. Você não sabe qual das duas direções deve seguir. Uma situação como essa, pode acabar com o sonho de um piloto, mas felizmente, esse não foi o caso de Cavalli. Antes de continuarmos contando essa história de superação, vamos explicar o que é de fato a visão dupla, um dos termos mais utilizados para se referir a diplopia.
Ao contrário do que se pode imaginar de imediato, a diplopia não é uma doença, mas um sintoma ocasionado devido a algum problema refrativo ou trauma. O sintoma surge quando os olhos não conseguem trabalhar juntos. Dessa forma, as imagens captadas começam a ficar distintas uma da outra, fazendo com que o cérebro não seja capaz de realizar a interpretação. Foi exatamente com duas imagens distintas do mesmo caminho, que o jovem piloto se deparou quando ainda andava de Kart. “Os meus olhos olhavam para direções diferentes, era um estrabismo leve. O problema impedia que a imagem pudesse se unificar. Eu estava em Farroupilha, andando com um Kart 125, e lá, a pista tem uma reta oposta muito grande, e no fim dela, tinha uma curva super rápida. Foi exatamente quando estava nessa curva, que me deparei com duas direções diferentes do mesmo lugar. Eu não sabia em qual entrar porque tinham duas curvas na minha frente”, lembra.
A situação era tão assustadora e perigosa que Cavalli precisou se afastar do esporte que mais amava. “Fiquei uns dois, três anos longe de tudo que envolvia corrida. Eu não conseguia exercer, não era possível. Até que realizei minha primeira cirurgia com aplicação de botox para a correção do estrabismo. Fiz duas vezes o procedimento, mas no ano passado, logo quando eu estava retornando a minha carreira como piloto na Turismo 1.4, o problema voltou mais forte do que nunca”, recorda. Foi durante um treino no Autódromo de Tarumã que Cavalli se deparou novamente com a diplopia. “Cheguei para treinar, e a primeira vez que entrei no carro, percebi que não ia dar, eu só queria ir para a minha casa, não queria competir, estava horrível”, lembra.
Prestes a desistir mais uma vez do seu sonho de ser piloto, Cavalli resolveu tentar algo novo ao perceber que conseguia enxergar perfeitamente quando fechava um dos olhos. “Fiz uma coisa que nunca havia feito antes, pilotei com apenas um dos olhos abertos. Foi muito difícil conseguir segurar um dos olhos fechados, pois, acabava afetando o outro também, devido à musculatura. Eu ficava com muita dor de cabeça, então tive a ideia de tapar o olho com alguma coisa, de imediato peguei um pano que utilizava para limpar o óculos, coloquei dentro da balaclava para impedir a visão de um dos olhos, mas não funcionou muito bem. Foi aí, que tive a melhor ideia da minha vida, fechei meu olho com uma fita tape e funcionou muito bem”, conta. Foi esse recurso inusitado que garantiu a participação de Cavalli na etapa da Turismo 1.4 que aconteceu no Velopark. “No meu carro tinha um monte de pedaços de fita. Eu dava umas duas voltas e o meu olho suava fazendo com que a fita descolasse. Então, a cada duas voltas eu precisava trocar. Foi complicado, mas consegui ficar entre os quatro primeiros em todas as baterias”, recorda.
Apesar de ter sido uma importante aliada, a solução era momentânea. Após colocar muita fita tape nos olhos, Cavalli finalmente encontrou uma profissional que compreendeu o problema em sua totalidade e realizou uma cirurgia para a correção. “A doutora Marcela Bordaberry foi fundamental para o diagnóstico e monitoramento da situação. Ela teve a capacidade e dedicação de compreender o problema por completo, além disso, ela sabia dos riscos que a cirurgia oferecia devido a minha profissão. Sem ela, dificilmente o problema teria sido resolvido. Agora, enxergo completamente. Foi especial poder voltar a pilotar enxergando sem nenhuma dificuldade. O retorno aconteceu no autódromo de Tarumã, em uma quinta-feira com o sol se pondo no meu rosto. Foi emocionante, devo tudo a minha oftalmologista”, afirma. Grato por voltar a enxergar, Cavalli presenteou Marcela com o troféu que conquistou pelo primeiro lugar na categoria B, durante a terceira etapa do Campeonato Gaúcho de Turismo 1.4. “Me trouxe de volta a dádiva de poder enxergar”, afirma.
Com a visão em dia e a vontade de mostrar a grandeza do automobilismo dentro e fora das pistas, Cavalli repaginou recentemente o Celta 74, substituindo a cor verde pelo rosa. A ação tem como objetivo alertar sobre a importância do diagnóstico precoce do Câncer de mama. “O automobilismo move todos nós, e com certeza, esse sentimento pode ser levado para fora da pista também. A ideia do Outubro Rosa surgiu por ser algo muito próximo da gente. A sogra do Luca (dono da equipe Lucatech Performance), Tereza Berghahn, faleceu recentemente, após lutar durante anos contra um câncer de mama, e essa homenagem é, em grande parte, para ela”, diz. Além de mudar o visual do carro, Cavalli também criou uma nova estampa para a camiseta da etapa que acontecerá neste final de semana em Guaporé. O valor arrecadado com a venda será doado para a Liga de Combate ao Câncer de Bento Gonçalves.
Texto: Fernanda Souza